THEÓFILO SILVA
O século XVI foi chamado pelos historiadores de “o século de ouro da Espanha”. A descoberta da América em 1492, pelos espanhóis, permitiu a nação recém unificada pelo casal Fernando e Isabel, tornar-se a maior potência do século XVI. O ouro das Américas permitiu que a Espanha vivesse um século de glórias que jamais se repetiria.Foi o período em que as artes na Espanha floresceram como nunca, dando ao mundo a maior de suas glórias: Cervantes e o imortal Dom Quixote. Seu rei Carlos V virou Imperador do Sacro Império Romano Germânico, tornando-se senhor de grande parte do mundo. A outrora poderosa França se debatia em problemas internos e a Inglaterra de Shakespeare só iria despontar a partir dos despojos da Espanha no fim do século de ouro. No Brasil tivemos uma história parecida, a de Minas Gerais, que já foi o estado mais rico e populoso do país e também o de maior representação política até as primeiras décadas do século XX.
A descoberta do ouro e outros metais preciosos pelos bandeirantes paulistas no final do século XVII criaram um novo estado - uma Califórnia brasileira - um século e meio antes dos americanos, as Minas Gerais. Diferentemente do Eldorado do Peru, explorado pelos espanhóis, no Brasil os portugueses ainda não tinham encontrado nenhum metal precioso, a riqueza que realmente interessava aos colonizadores europeus.
Com a grande descoberta, os paulistas se mudam para as Minas Gerais. O esforço de Fernão Dias Pais, o desbravador dos sertões, o Caçador de Esmeraldas, que nada encontrara em sua busca pelos sertões das Gerais, se completara. Ouro Preto é o nome do novo Eldorado brasileiro. Em pouco tempo uma tonelada de ouro é retirada da terra e esse índice aumenta dia a dia e, em um século a região se torna a mais rica e próspera do país.
A arquitetura, a escultura, a literatura, a música e as artes em geral dão um salto gigantesco e a região só cresce. No entanto, os portugueses não estão satisfeitos com os altos impostos que cobram e essa ganância revolta os brasileiros. Felipe dos Santos, Tiradentes e outros são condenados e mortos nessas insurreições. Após a Independência do Brasil em 1822, Minas é o estado mais poderoso durante todo Império. Com o ciclo do café e a chegada dos imigrantes São Paulo cresce muito e ultrapassa Minas. Com a proclamação da República São Paulo e Minas se alternam na Presidência da República, é a política do Café com Leite. O leite de Minas e o café de São Paulo. Em 1930, São Paulo rompe o acordo com Minas e Getúlio Vargas dá um golpe de estado. O poder de Minas começa a declinar aí.
A ditadura de Vargas dura quinze anos. Em 1956, um médico mineiro, Juscelino Kubitscheck é eleito Presidente da República. Vinte e oito anos depois, outro mineiro, Tancredo Neves é eleito indiretamente Presidente, mas morre no dia da posse. Minas jamais esquecerá esse dia e o povo mineiro é marcado por essa data até hoje. Com o “Impeachment” de Fernando Collor, mais um mineiro, Itamar Franco fica dois anos na Presidência.
Lembro das queixas de um nobre em uma das peças de Shakespeare: "É um direito que temos, mas que não temos o direito de exercer". Minas acha que está na mesma situação desse personagem, quer um direito que teve no passado, mas que hoje é ocupado pelo rico estado de São Paulo, o lugar de onde saíram os dois últimos presidentes do Brasil e de onde, mais uma vez, sairá o próximo. São Paulo, hoje ocupa o mesmo lugar que Minas no passado, o lugar do mais rico, e o mais rico quer a Presidência da República. São Paulo faz com Minas o que Minas fazia com São Paulo no passado. As coisas não deveriam ser assim. Mas é assim que são.